Com o 25 de Abril de 1974 iniciava-se o processo de democratização e a Revolução dos Cravos. Milhares de pessoas lançaram-se na aventura de construir um novo país. A auto-organização do movimento de moradores levou a que, por toda a cidade de Lisboa, se multiplicassem as ocupações de imóveis devolutos, abandonados ou vazios, onde eram criadas escolas, creches, bibliotecas, farmácias, clínicas populares, grupos de teatro ou desportivos, sedes de partidos ou de comissões de trabalhadores e moradores, etc..
Em 1975, um grupo de moradores da freguesia das Mercês (atualmente Misericórdia), entre os quais se encontravam pedagogos, pedopsiquiatras, estudantes de Educação de Infância, psicólogos e outros profissionais e voluntários, identificou as necessidades prementes da população local, marcada pela pobreza e por graves problemas sociais. Perante a inexistência de respostas adequadas para as crianças da freguesia, decidiram ocupar um palacete devoluto no número 11 da Rua da Palmeira, então propriedade dos Hospitais de Lisboa, com o objetivo de criar um jardim de infância que pudesse acolher e apoiar as famílias.
Durante quase um ano, este grupo dedicou-se, de forma totalmente voluntária, a adaptar o edifício às finalidades educativas a que se propunha. O esforço coletivo culminou na inauguração, a 6 de janeiro de 1976, de um espaço com capacidade inicial para 25 crianças em jardim de infância que funcionava apenas no rés-do-chão do palacete, sendo que o primeiro andar foi ocupado pela Comissão de Moradores da Freguesia das Mercês. A criação deste espaço respondeu a uma das necessidades mais urgentes identificadas: a falta de locais seguros e acessíveis onde as crianças pudessem permanecer enquanto as mães trabalhavam.
Dois anos mais tarde, em 1978, a iniciativa ganhou forma jurídica com a constituição da ADECO – Associação para o Desenvolvimento da Freguesia das Mercês. Com esta formalização, a associação passou a usufruir da valência de creche e consolidou a sua missão de promover respostas sociais e educativas de qualidade, reforçando o apoio à comunidade.
Hoje, prestes a comemorar 50 anos de existência, a ADECO mantém vivo o espírito de dedicação, proximidade e empenho que esteve na sua origem. Atualmente ocupa a totalidade do edifício e continua a afirmar-se como uma instituição de referência. Funcionando em moldes cooperativos e de gestão participada de pais, trabalhadores e associados, foi uma iniciativa popular e uma conquista da Revolução que muitos mantiveram generosamente de pé nas décadas seguintes. Cinquenta anos depois, apesar de todas as dificuldades, continua a resistir na Rua da Palmeira este projeto educativo aberto à comunidade.